Sinopse das Palestras

O Sonho de Gáia - uma metáfora ecológica 

Berenice Kazan


Corremos contra o tempo, nesse esforço conjunto para preservar os diversos ecossistemas de que se compõe Gaia, onde as poucas consciências alertas, mas cujo número vem aumentando consideravelmente, buscam reforços para suas palavras e anseios. Esperamos contribuir, com este trabalho, para reforçar as vozes que cantam louvores à beleza e exuberância da natureza, à generosidade e ao poder de renovação, tão característicos de nossa Mater Tellus, a Mãe Terra, a poderosa, que dá e toma, que renova e provê. 

Na primeira parte, falaremos de GAIA – a Grande Mãe. É uma abordagem mitológica, que nos fala do mito de Gaia, perpetuado através da tradição oral, até que Homero e Hesíodo os compilassem, sistematizando a Mitologia Grega, com seus personagens arquetípicos. 

Na segunda parte, apresentaremos a Teoria Gaia, elaborada por Lovelock e Margulis. Estes cientistas, através de suas pesquisas, demonstram que o planeta Terra é um organismo vivo, pois suas características assim o demonstram, possuindo inclusive um sistema de auto-regulação. Assim sendo, foram buscar na mitologia a inspiração para denominar sua Teoria, pois ali Gaia é descrita em “corpo e alma”. 

Na terceira parte, iremos descrever a importância da cosmovisão, pois graças a ela, a atitude e o comportamento dos indivíduos variam no tempo e no espaço. Cosmovisão é tradução do alemão weltanschauung (welt – mundo, schauen – olhar), ou seja, ‘modo de olhar o mundo’. 

Finalmente, na quarta parte, relataremos O Sonho de Gaia. Selecionamos trechos de vários autores, mostrando suas visões sobre nosso planeta. A cosmovisão de cada um tem um ponto em comum: o carinhoso cuidado que sentem por Gaia, este planeta que nos abriga e que se mostra tão generoso, pois seus recursos naturais seriam inesgotáveis se utilizados de forma sustentável. Infelizmente, a cosmovisão de grande parte de sua população atual, onde o individualismo impera, contribuindo para a construção de seres egoístas e narcísicos que competem acirradamente e estimulam a destruição do outro e do próprio meio ambiente em que se vive, vem motivar o grito de alerta de muitas vozes que clamam por socorro, mas atingem o ouvido de poucos, pois a grande massa está motivada, apenas, pela ambição desmedida. 

Violência, guerra, homicídio, pedofilia, incesto, roubo, doença, penetram diariamente nossos lares através da mídia, ou até mesmo, na interação de nossas próprias famílias e amigos. Hefesto, Ares, Górgonas e Dragões nos rodeiam incessantemente. Héstia? Poucos a conhecem... 

Clamamos por EROS ! Por onde andará?



"O Crocodilo" de Dostoiévski e o progresso da Indiferença. 

Ana Cristina Abdo Curi 

O Crocodilo é uma novela inacabada em que apenas o seu primeiro fascículo foi publicado por volta de 1864 na revista Epokha dos irmãos Dostoiévski. Após a morte repentina de Mikchail, abatido emocionalmente, sentindo-se sozinho e com o agravamento de suas dívidas, Dostoiévski não pode conter o colapso da revista, apesar de seu heróico esforço. Com o fechamento de Épokha “O Crocodilo” permaneceu inacabado, mas informações posteriores foram encontrados em seus rascunhos. 

A história começa com um acontecimento insólito em treze de janeiro de 1865. Em uma das lojas da Passagem de São Petersburgo, uma galeria coberta, com salas para concertos, exposições e conferências, ponto de encontro da intelectualidade progressista da cidade, o funcionário público Ivan Matviéich é engolido vivo e inteiro por um crocodilo exposto à visitação. 

A partir desse acontecimento o mestre russo mostra as alterações de comportamento que se seguem, tanto do habitante do crocodilo quanto de todos aqueles que pertencem ao seu círculo de relações sociais. Com a prevalência do princípio econômico sobre todos os demais valores humanitários, até Ivan tenta se adaptar ao novo habitat encontrando uma maneira de lucrar com sua posição crocodilesca. 

Como um "profeta”, Fiódor Dostoiévski (1821-1881) não apenas falava da alma humana, mas para onde caminhava a humanidade. Com um legado que vai muito além das páginas de seus livros, a perspectiva de Dostoiévski relaciona os ideais progressistas com a consequente desumanização de uma sociedade fundada num “monoteísmo” capitalista. Foi a atualidade dessa herança no habitat contemporâneo que me fez desejar o presente trabalho, partindo da possibilidade de diálogo entre a psicologia junguiana e os romances de Dostoiévski. 

Numa cultura onde a consciência coletiva demanda sucesso e sucesso a todo custo, em que acumular objetos, consumir, negociar torna-se não apenas uma prática por amor ao lucro, mas “virtude” do herói contemporâneo, pensar de que maneiras o princípio econômico afeta a subjetividade é urgente. Afinal a indiferença cresce assustadoramente, num habitat selvagem onde só tem lugar um vencedor, “o princípio econômico, não o homem.”



Edifício Master de Eduardo Coutinho e o Individualismo na Contemporaneidade. 

Solange Martins

A cultura cotidiana é fortemente influenciada pela mídia, publicidade e consumo que pregam o bem estar individual, o lazer, o interesse pelo corpo, os valores individualistas do sucesso pessoal e do dinheiro. Algumas pessoas tendem a afirmar a sua identidade por meio do consumo próprio. Surgem ainda a “privatização” das crenças, valores e estilos, assim as identidades parecem frágeis e temporárias. É típico da fragilidade do ego que todo elemento de insegurança, todo risco seja acompanhado por um medo quase que insuportável. Um ego frágil sente-se seriamente ameaçado por certas experiências que são parte de uma vida plena. Essa é a razão pela qual desenvolve mecanismos de defesa e toma posições defensivas. É neste sentido que “Edifício Master”, além de apresentar as personagens num mundo solitário, também produz um mal-estar no espectador à medida que o implica, fazendo-o perceber, pensar e sentir o quanto próximo destes personagens nos encontramos. É desta forma que a aproximação entre ciências humanas e cinema pode possibilitar um novo diálogo e suscitar questões importantes. Uma reflexão sobre a subjetividade na contemporaneidade.



A Ética e o Caos 

Antonio Aranha 

Na matemática e na física, a teoria do caos visa explicar o funcionamento de sistemas complexos. Nestes sistemas, uma ligeira mudança em um dos fatores desencadeantes do processo poderia causar uma grande discrepância no final, o que resultaria uma certa imprevisibilidade do resultado. Um exemplo destes sistemas caóticos seria a meteorologia. Bem conhecida é a máxima de Lorenz, segundo a qual uma borboleta bateu asas em Tóquio e choveu no Texas. Dentro destes sistemas multifatoriais, é quase impossível que todos os fatores sejam exatamente os mesmos em outra situação. Desta forma, é como se Heráclito tivesse invadido a matemática e a física, um campo platônico por excelência. 

Transportando este raciocínio para o campo sociológico, desde Nietszche vários filósofos têm pensado o mundo como um espaço onde não existiria uma verdade absoluta e onde tudo seria relativo. Uma das consequências desta posição é que o Bem e o Mal também se tornam relativos. Não é à toa que vivemos uma grande crise ética que avassala a contemporaneidade. Afinal, como estabelecer valores éticos universais em um mundo onde tudo é circunstancial?